Bem me lembro do personagem que o ator Osmar Prado representava em uma antiga série de TV. O falastrão caixeiro-viajante seu Quequé. Mantinha uma tríplice e sólida poligamia. Era provedor de três famílias.
Eu, em certa medida, sofro do "quequeísmo", gosto de estabelecer vínculos sexo-afetivos com diferentes mulheres. Nada muito sólido; tudo com um grau médio de comprometimento. Só não conto bravata. Ouço uma pá fanfarronices dos colegas mas guardo meus feitos no cofre do silêncio; são o meu tesouro. A profissão ajuda. Ser motorista de táxi permite que a gente esteja em qualquer lugar a qualquer hora do dia. As mulheres passam uma temporada muito ligadas a mim. Aos poucos, percebem que investiram sentimento em moeda podre e, por si próprias, tratam de me abandonar. Mas não sem antes fazer algum escândalo, um apelo final. Colecionar essas conquistas me apraz. Jogo em roleta viciada. Busco nas mulheres diferenças que se convertem em equivalência. Busco distinções anatômicas e ignoro as de caráter e personalidade. Assim eu sou. Quer dizer, assim deixei de ser quando me deparei com ela.
Entornava uma cerveja num bairro da baixada quando uma normalista entrou. Pediu uma coca-cola. De imediato, manjei aquelas pernas descobertas pela saia azul-marinho. Uns olhões castanhos. Toda posuda. Aquela sisudez só fazia aumentar o encanto. Levei o copo à boca pra não falar gracinha...
Mas foi ela que deu brecha quando me pediu fogo. Mandei jogar fora aquele cigarrinho paraguaio e ofereci para seus lábios um raro prazer. Fumamos e nos apresentamos. Jareceruba, ela vivia num buraco chamado Jaceruba. Não rompi com meus outros cachos. Porém, aquela novinha balançou minhas estruturas. Inexperiente, mas topava tudo. Garota com disposição de sobra. Quem disse que sexo não apaixona? Aquele corpo esguio, aquele cheiro de perfume barato. A maneira de maquiar muito adolescente. Os erros crassos de português...
Fui aumentando a carga afetiva. Pagava almoço. Dava dinheiro pro salão. Comprava livro e os caralho. A corda foi esticando, foi ficando tensa. Fui na casa da moça dar as caras. Levei uns troços pro lanche. Fazer uma presença, sabe? O casa era miserável. A necessidade da mãe e das cinco irmãs que lá viviam era tanta que nem senti cheiro de cafezinho. A gente adora um drama pra justificar nosso apego. A garota jaceruba era um drama ambulante e me prontifiquei a salvá-la. Comecei a estudar a possibilidade de morar junto, de bancar a garota. Na mesma época, ela me veio com o reclame ginecológico. Levei ao médico. Nada sério. Catipopeia que dá em mulher. Tive de gastar uma gaita. Tudo seguia o curso da previsibilidade quando fui surpreendido pelo lançamento inapelável do destino. A cabritinha me deu balão. Fui até a pocilga em que ela habitava tomar satisfações. Ouvi da boca materna que ela tinha viajado, que se não estava comigo, estava com o outro. Tudo ruiu. Entre juras de amor, ela se escusou. Resgatei o o afeto investido pra salvar minha autoestima. Não queria perder a foda. Ela regateou, dizia merecer mais que isso porque puta não era.
Ainda hoje topamos. Aquela boca, de onde sorvi beijos, erros gramaticais e muito prazer, calou. Daqules lábios que filaram meus cigarros não ouvi sequer bom dia.
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