domingo, 3 de julho de 2011

Meu Querido Canalha*

Canalha. Tu finges ser um andrajoso que mendiga afeto quando na verdade não passa de um cigano que andarilha pelo corpo das fêmeas em busca de diversão. Brincas, brincas e, depois que te esbaldas, livra-te delas como se fossem um brinquedo velho. Guardas lembranças diminutas para montar teu interminável caleidoscópio do universo feminino.
Cafifa. Semeias ilusões, prometes sem garantir. Fazes com que as moças hipotequem toda a carga afetiva e em troca oferece moeda sentimental putrefata. O produto desse escambo infame é a dor alheia. Tu te vais com a lástima de nada poder edificar e deixas apenas um alicerce onde estão depositados escombros.
Calhorda. Não largas o osso. Não dispensas mulher alguma. São elas que, por força maior, abandonam-te. Levam para longe a verborragia reclamona e a culpa de terem errado. O mesmo dedo dedo indicador de extraída cutícula e unha impecável que te aponta a vileza é o dedo podre que indica a ti como melhor opção.
Cafajeste. Desbravas os corações com a mesma fúria que penetras os corpos. Porém, não passas da fase inicial. Abandonas tudo no começo para deixá-las com o agônico sabor do "como seria?". 
Ainda assim, meu canalha, eu te amo. Porque essa voz que te fala também é tua e essa tua condenada inquietude é igual parte de mim
*Meu querido canalha é título de uma antologia de contos (que nunca li) sobre cafajestes amorosos.