quarta-feira, 14 de julho de 2010

O caráter já nasceu capado

A letra H é o única que é realmente muda em nosso Português. Ela é apêndice, grafema vestiginal. Só figura nas palavras por herança advinda das línguas-avós - cuja a pronúncia do agá era aspirada, mais ou menos como no inglês horse -, mas que hoje só faz figuração e é acompanhate de certas letras para com elas formar os dígrafos (lH /cH/nH).
O H é, portanto, letra da aparência que, quando principia uma palavra, constitui uma imagem oca, destituída de qualquer som.
Para contrariar a desimportância da oitava letra do alfabeto, ouve-se do talentoso Matogrosso e dos varões que querem ilibar suas machesas: "Sou homem com H!".
Não.  Admito que estou forçando a barra.
A verdade é que os machos falantes substituíram o título do poema-canção pela seguinte frase: "Sou sujeito homem!" O sintagma-pênis é proferido sempre que o suposto machão quer confirmar sua coragem, sua varonice, sua retidão e a consistência de seu ereto e reto caráter.
Ouvi o sintagma fálico de um sujeito para quem trabalhei e demorei para ver a cor da remuneração. Até hoje, passada uma trinca de meses, o sujeito composto por três núcleos (uma sociedade de tratantes) ainda me deve R$ 150,00. Quando protestei contra o calote travestido de atraso, o sujeito repimpou e berrou ao telefone: "Sou sujeito HOMEM!". Como se ser Homem, ou melhor, como se o fato de ter uma cauda entre as pernas salvaguardasse a incolumidade da exaltada hombridade.
Para tais arquétipos de pretensa virilidade eu digo:
"Homossexual" também se inicia por "H".
Clóvis Bornay também era homem .
Caráter não tem pinguelo.
Teu caráter mede 1cm.

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